Noite Escura
Andei léguas, conheci desertos, tive
sede de paz e justiça.
Tu não sabes, mas tive sonhos roubados e minha alma gritou de dor, partiu-se em mil pedaços. E desabando n'um deserto, descobri o quão foi duro estatelar-me ao solo empoeirado daqueles que pareciam estar mortos.
E aí percebi que também morria. Por meses olhei pelas vidraças um mundo inteiro lá fora. Mundo que já conhecia, no entanto não entendia.
Onde, na estrada, deixei-me de lado? Por quê? Por que dei as mãos ao vento e no olho do furacão percebi como meu corpo era frágil ao adoecer? Chorei, vi que minha alma junto ao corpo também adoecia.
Não, não achei explicação. Subi a montanha e fitei os campos verdes; a cidade morria lá atrás com os sonhos que agora pareciam tão tolos! Na verdade, eram quase pueris... Havia dado o melhor de mim.
No mais, para renascer, naquele inverno impetuoso ibernei.
Ainda relembro as avenidas que luziam, os risos soltos, as madrugadas feiticeiras... A inocência; e, agora, não esqueço-me dos lobos que caminham pelas ruas a espreitar-nos.