Cortou os impulsos do coração enquanto buscava o infinito num olhar, à espera de um milagre que viria como uma manhã de domingo entre beija-flores e sol.
Nos traços feitos com a arma branca da auto condenação era possível ver suas camadas de sentimentos dilaceradas em intensidades diversas sob uma mão sensível e de intensa compaixão, enquanto a mente assobiava uma canção triste, sem auto perdão.
Postos à prova e dispostos em ordem... Revezavam os sentimentos como que num jogo de tabuleiro ao favor de um cubo sem lógica.
Enquanto a desilusão sangrava, aos poucos a cor vibrante ia se enfraquecendo e, desbotada, acenava com um lenço branco, ofertando trégua, como escambo pra trocar o que a tomava por dentro, sequestrando o ar.
Ofereceu um vinho seco que corria pelos ductos que perfaziam a alma, na tentativa de ludibriar o coração infantil que esperava a verdade em um alvoroço, nunca dita a si. 
Tirou da manga o último entorpecente capaz de devolvê-la sua identidade: e a letra da música embalou as suas dores numa dança de roda que não parecia ter fim.
Entre rodopios e piruetas, um suspiro ofegante à mercê de um socorro que aguardava como se gestaste em amor.
Ao fim do espetáculo, quando aplaudida de pé, viu as cortinas se fecharem, diante de ti... E deitando-se no solo da alma que suturava a angústia com fios de esperança numa agulha de dor, tentou secar o dilúvio espalhado enquanto dançava para encher os olhos dos outros e esvaziava os seus...


 
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 17/01/2020
Reeditado em 17/01/2020
Código do texto: T6843925
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