A ser(pente)
Estão me perseguindo. (X + 4) – (X – 4). Triiimmmm. Perdeu a validade o pacote de biscoitos. Chuvinha em fim de tarde. Segundos, minutos, horas... o tempo é mortal. No dicionário Aurélio: bolômetro, aparelho de medição da energia de radiação eletromagnética em determinados segmentos de longitude de onda que emprega a variação de resistência de um delgado condutor produzida pelo efeito de aquecimento da radiação. Estão me perseguindo. Ligação de R$ 1,00 pra casa de frente a minha. E a maré retorna em mim, dentro de mim, como menstruação que sangra pra dentro, palavras metalúrgicas reclamam o soldo da ausência. Larguei-me. Diante do altar deixei os pecados de menina interiorana que traiu o Oxum. Serei zambembe? Ah! Brincos perdidos. Rua escura de mim, presença de mim em negritude de noite sem lua. Querer-me-ia um bocado. Diz-me um pouco do dom da história. Há rumores de guerra entre a América e a Ásia. Ir passarear num céu de dúvidas cruzando a linha do horizonte. Eis-me: f(x + x') = f(x) + f(x'). Uma reta. Renoir pintava meninas, eu pinto sen(horas). Em cem horas o ceticismo me alcança: não existo! Estão me perseguindo. ¾ de hora e eu acendi o lampião na lacuna vazia do meu ter. Ter olhos, ouvidos, boca, nariz, pele...sentir. Em raízes descobertas tive dores de egoísmo. Vou-me largar no tempo de Santo Agostinho. Quase fui bandida. No varal estendei meus sonhos. É a música da alma com clave de sol, em notas mínima e semínima. A outra porta está fechada pra visitantes estrangeiros. Casa de ninguém fica na janela poeira sozinha. Quase atei a veia de Golias ao coração de Davi. Queria ter derrotado a Esfinge, Édipo, pra ser na Terra o lábaro que ostenta estrelado. Um rapsodo do século vinte e três a declamar o poema épico de Homero. Estão me perseguindo. Dentro da circunferência há um ponto cego. Plisnier em sua poesia dizia que há um céu de vidro azul, é possível. Um espelho. Vingança de Heráclito não deixar a correnteza do rio correr de encontro ao meu mar. Mar meu em que barcos náufragos guardam ditos de amantes. Não sei pra onde vou. As outras oficinas não têm chaves iguais a esta. O limite do caos está desfavorecido na lapela do padre. Li a Bíblia e tive medo do apocalipse. Depois brinquei de morrer. Apesar do barulho dos pedreiros posso escrever mil contos na escrivaninha de madeira, incômodo diminuto em relação ao tic tac do relógio da parede. Já faz tempo foi pichado no muro da solidão uma certa frase: procura-se uma amiga pra contar estrelas. Todos os mitos, crenças, mares, marinheiros fizeram morada no meu ser através de Marco Polo. Na rua da misericórdia dei carona a víuva do bem-me-quer. Quem trouxe o pão não foi o menino de pés decalços. O flautista morreu sozinho. Do outro lado dessa rua mora uma tarde de chá. A mecânica quântica busca a energia do corpo negro. A lua está sem caule. Oxalá todos os deuses me fizessem festa neste domingo quieto, feio, acizentado. O Sol não caiu atrás das montanhas hoje à tarde, mas atrás do rio do meu descontentamento. Os quatro elementos da natureza: água, fogo, ar, terra. Há vida. Ponto final. A teoria da evolução das espécies fez 150 anos, e Deus existe como criador do mundo. Viva é a obra que o artista pinta em cores primárias. Homens de latas com corações de músculos, futuro. Nós fomos, pretérito perfeito. Estão me perseguindo. São relâmpagos atrás das árvores. Estrelas caem do céu de vidro, diz Plisnier. Eu saio pra fora de todas as consequências das minhas irresponsabilidades, dos desenganos de re(viver) romances, do que fiz em nome de um furor incontrolável por águas-nuas. Pra não esquecer, ctrl + c. Sou mulher que gera acalantos. Dar-me-ia pra você. Lucidez nunca foi minha visão de mundo, porque o mundo sempre esteve de cabeça para baixo em mim. Sim, o resumo é de 250 palavras. Há metáforas além do espetáculo circense. Estão me perseguindo. A idosa veio me pedir uma xícara de café às seis da tarde. Converti meu coração pra formato jpg. O vetor. Bitmap de 256 cores. Um olhar de 1024 x 768 pixels. A mala perdida leva chuva na praça da piedade. Alain Bosquet desaninhava, não sozinho, a lua rubra do fundo dos bosques. O grilo canta lá fora. Se amanhecer com neblina não poderei abrir as janelas. É preciso mandar lavar as cortinas. E se a lavadeira não vier hoje, provavelmente não virá na próxima semana. É doente essa mulher. Um descuido e o vento entrou pra apagar o lampião. Profissão? Prostituta. No alpendre tem uma cadeira de balanço à espera de um velho que saiu pra caçar passarinhos. Em nascer somos filhos de uma vida de presente, sem passado e com futuro. O choro do bebê alerta o não dormir, o do homem o de subtrair. Tenho giz de cera e lápis de madeira pra colorir qualquer coisa que queira, mas a brancura me alegra. Tomei dez pílulas pra ser feliz. O pneu do carro furou em cima da ponte. O nada é antigo demais pra ser real, há algo em tudo, constituição íntima de tudo ao nosso redor. O engenho tem cheiro de escravo mais do que de açúcar. A ser(pente) aguou o crisântemo da temperança. Estão me perseguindo. Treze horas. Busquei nas virtudes cabelos para pentear. Fui ser mulher feirante. Costureiras criam golas pra camisas de homens. A ferrugem do anel de ferro na minha mão direita escorrega entre a água e o sabão. A lua que vai é a mesma que volta mais tarde. Ri. Há uma traça devorando um livro meu. Cópia malfeita minha está do outro lado da rua comprando licor. Letras correm nos mangues. Perdido estava o soldadinho de chumbo. A banda larga só atinge 300MB. 1 Bit = 1 ou 0; 1 Byte = um conjunto de 8 bits; 1 Kbyte = 1024 bytes ou 8192 bits; 1 Megabyte = 1024 Kbytes, 1.048.576 bytes ou 8.388.608 bits. Dizem que os mecânicos cheiram a graxa mesmo depois do banho. Os sacos de lixos das casas da minha rua estão todos à espera dos garis faz três dias. Dos escombros vieram as saudades do tempo em que brincávamos de ciranda. A língua é social, a fala é individual, nós estamos bem ou mal. No logaritmo da esperança esqueci uma vírgula e ele não compilou. O palhaço fez seu espetáculo e esperou os aplausos. A beleza é sábia e astuta, nalgumas vezes. A tiara emprestada à menina perdeu-se de volta pra casa. Tua tese tem muitas citações e notas de rodapés. Estão me perseguindo. René Descartes (1596 – 1650). Fim do mundo. Início de mim. O outro chegou como quem vem da chuva e lama em milhões de séculos. Você disse que o poema era seu. O encanador consertou a torneira, os pingos já não me incomodam. Gastei R$ 0,38 com uma bala. Dei às costas e o leite derramou. Ao abrir o envelope encontrei uma carta com data de 05.01.1809 endereçada a mim! Moro nesta casa há quarenta anos e nunca vi passar por aqui um vendedor de flores. As tábuas do sótão estão com cupins. Refutei tudo o que me ensinaram quando criança. Sou máquina de desaprender. Sábado-feira, vou comprar peixe. É tempestade diluviana a tua ausência em mim. Estão me perseguindo com um boi-de-reis. Repito, se quiseres. BACHELARD, Gaston. A poética do devaneio. São Paulo: Martins Fontes, 1996. O marcador está na página 183. É necessário fazer a barra da calça, diminuir 10cm. O veneno do teu ósculo corre em mim, ser(pente). Copyright © by desconhecido.