Fátima, uma saudade chamada sombra da lua
Fátima, uma saudade chamada sombra da lua
Às vezes a vida nos leva a porquês desassossegados que despertam nas profundezas das nossas almas e assim saímos atrás de respostas que nunca encontraremos prontas, ou seja, que necessitarão sempre de um ourives, um carpinteiro, uma bordadeira, um vento que pode vir do norte ou do sul, tanto faz. São os mistérios e segredos que giram em círculos pelo Universo numa canção que enaltece a dignidade do homem em prol do seu bem-estar. Perguntas como as do poema de Fernando Pessoa, como ele mesmo diz
Que ideia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
No mundo líquido do sociólogo Zygmunt Bauman as pessoas não têm mais tempo para nada, as relações afetivas estão frágeis e já não nos preocupamos mais com perguntas iguais ao do poema acima. Porém, há uma questão que nos atormenta e insiste em criar morada dentro de nós, principalmente quando nos deparamos com ela. O que é a morte? Para muitos o descanso eterno, a saudade, o alívio de um sofrimento, a partida para junto de Deus e tantos outros conceitos. O que importa é que a morte existe e por mais que nos preparemos para esse momento nunca estaremos com as vestes costuradas no seu total, sempre faltará uma casa de botão ou um ajuste para ser feito aqui e acolá. A morte pode ser o começo da vida eterna onde o corpo se liberta da alma para ir comungar com Deus uma vida espiritual. Ninguém morre enquanto permanece vivo dentro de um coração. A saudade é o leme deste navio que sai mar adentro à procura de lembranças que a alimente.
Na história da Universo, muitas mulheres brilharam com seus feitos pela humanidade ora pedindo paz e amor, ora proclamando a fraternidade entre os irmãos. Mulheres inspiradas por Deus que viveram para amar o próximo e nunca temer o amanhã. Algumas dessas mulheres ficaram conhecidas como Débora, Rute, Madre Tereza de Calcutá e Irmã Dulce. É de uma mulher igual a essas que peço licença a poesia, aos mistérios divinos, as luzes das estrelas dessa noite para falar um pouco de Maria de Fátima Teixeira Marques. Sim, meus queridos, estamos cá reunidos na data de hoje para celebramos o sétimo dia de falecimento dessa nossa amada amiga, esposa, mãe e avó. Mulher cristã, corajosa, sábia, inteligente e culta que traçou os seus próprios caminhos na estrada da vida plantando flores e arrancando pedras muitas vezes. A esposa dedicada que zelou e cuidou do seu marido com o coração cheio de contentamento e encantamento, a mãe de lições firmes que educou seus filhos com paciência e sabedoria mostrando sempre a difícil realidade que é crescer e ir ser feliz no mundo, a profissional que se dedicou ao seu trabalho com afinco e determinação. Fátima criou moradas nos corações de cada um de nós que cá estamos, moradas essas com portas e janelas abertas à esperança de um mundo melhor, a fé em Nossa Senhora, a alegria de encantar-se com o canto das aves ao amanhecer de um dia primaveril. Uma amiga sempre disposta a ajudar o próximo com as suas dóceis e confortáveis palavras. Uma mulher que sempre soube buscar nos vagões dos trens passageiros bíblicos para os ensinamentos cristãos àqueles que tanto necessitavam de uma palavra de carinho. Já sentimos muitas saudades, Fátima. Os barquinhos voltando do mar com os seus pescadores puxando as suas redes anunciam que você está por perto cuidando de nós como quem cuida da família e dos amigos com o cuidado de uma fada com poderes especiais de encantar-se nas madrugadas silenciosas onde o bater das horas anuncia o resgate da lágrima que insiste em cair. A sua passagem pela terra foi grandiosa, deixou sementes espalhadas nas ausências e presenças dos olhares daqueles que guardam maçãs verdes nos corações. Alegria você nos ofereceu com o seu sorriso de mulher corajosa que lutou pela vida até o último segundo. A sua história continua com Maria Clara e tantas outras Marias e Joãos que nascerão ao longo dos anos. Não terminamos a leitura, apenas viramos a página cheia de reticências e interrogações para começarmos uma nova, com a ilustração de um sorriso que nunca se apagará das nossas almas, o seu sorriso, Fátima, nosso guizo vestido de semeadura. Que a sombra da lua sorria sempre ao anoitecer. Até logo, nossa amada Fátima!