Esqueci

Confesso, ainda meio contrariado, que ainda te espero.

Seja num claro raio de esperança (coisa odiosa), ou num detalhe que sobrou da solidão de ontem, acompanhado sem dúvidas, dessa melancolia branca.

Desde ontem estou triste, como se não houvesse motivos de existir.

E assim, o mais certo seria morrer.

Essas coisas escritas, que não chegam a ser ideias, talvez possam assustar os "sensíveis" que às leem — E essa não é minha intenção.

Até porque o fato é que a poesia prosaica em face ao papel não tem intenção de morte. Nunca tem.

A própria prática da escrita se compacta ao pequeno prazer do exercício e do ralo alívio de exteriorizar. E não fornece, mesmo assim, nenhuma salvação.

Ponho-me agora à espera de um aviso, uma permissão.

Se um amigo ligar, com certeza aliviado do tédio e da solidão perniciosa, irei beber... fumar alguns e sorrir, cuspir poesia em sua casa: Uma casa muito boa pra chorar e rir.

Se ele não ligar, ficarei aqui e quem sabe me curo dessa gripe chata. Mas o certo é que de um jeito ou de outro, consegui te deixar em mim.

Longe dessa malícia toda de aspirante ao amor fecundo e partilhado, meus olhos não enxergam a ponte que está molhada desde sábado. Parece-me que a chuva se compadece, não é?

E no entanto, não se multiplica. Vou aquecer as toalhas, ligar o carro e se possível, mensurar em texto toda a confusão da cidade,

iluminada sob um chão de piche e saudade.