O ESPELHO DE NARCISO
Narciso embriagou-se vendo nas águas refletida a sua imagem,
Instaurou a autoidolatria, nada mais que uma grande bobagem,
E mergulhou na grande maratona para sempre levar vantagem.
Doce infância de que pouco recordamos no fim da vida,
Onde o espelho ocupava pouco espaço entre os bonecos,
Pois nessa etapa a vaidade ainda não se encontrava inserida,
O dono dos bonecos, não se incomodava com valores estéticos.
Na adolescência e na fase adulta, o espelho domina os espaços,
Os detalhes são minuciosamente observados, com todo cuidado,
Sem o menor descuido para evitar todos e quaisquer embaraços,
A vaidade impera soberana, poderosa, no comando determinado.
Mas chega a velhice, o tempo passa, ele de ninguém se esquece,
As reflexões avançaram indicando onde se encontram os valores,
O conhecimento ocupa todos os espaços e a vaidade desvanece,
Retrocede a atenção com o exterior e avançam os dons interiores.
Aumenta o isolamento e a solidão produzidos pela individualidade,
No contexto, não prevalece a vontade pessoal de compartilhar,
Pois a compreensão para alcançar toda a sua profundidade,
Depende somente dos que têm a coragem de mergulhar.
Pobre do Narciso, agora ele necessita convocar toda sua coragem,
Ele deve olhar para dentro de si mesmo e receber uma mensagem,
Para então afinal compreender o verdadeiro sentido da sua viagem.