Prosa de uma poeira estelar
Somos corpos dispersos, afastados pela gravidade hostil que nos designa movimento a direções opostas.
Perdição se alastra pelas forças de minha natureza, orbito em desamparo desprovido de razões que interrompam meus ciclos infinitos. É como flutuar despropositado, em esperança de que se quebrem estas leis que me aprisionam em monotonicidade.
Numa catástrofe em que se colidem as certezas de que seu brilho desvanece ofuscante entre a constelação que lhe torna uma estrela a mais em sua multidão. Em conformidade, observo em minha inércia que apenas me resta observar até que não haja mais cintilâncias que me guiem em ti, até ti.
Como ondas
Na imensidão
De um vazio
Em que nado
Até me afogar
Em sua estática.
Oblívio apaga
De minha mente
As coordenadas
Que me levariam
De volta ao meu
Particular Sol
De familiaridades.
É exatamente como
Mera poeira estelar
Que não servira a
Nenhum grande propósito
A não ser sua própria
Caótica existência.
Uma miríade de anos-luz me distancia de encontrar os motivos certos. Os mistérios deste insólito universo me fixam a ser parte de seu vazio, um molde silencioso e incolor o qual não vejo opções a não ser aceitá-lo como meu merecido lar.
O alicerce destas dimensões desconhecidas enferma minha resistência. A relatividade do tempo esvai-se dos meus sensos. Não mais sou quem teria as respostas perfeitas a qualquer condição a qual me intimida com o mesmo idêntico impasse. Não mais sou quem seria capaz de distinguir o que há além do que a escuridão cobre em minha visão beirada à cegueira.
A matéria da alma,
Carente e incerta,
Permanece a vagar
Em desamparo pelo
Nada em que encontrou
Seus termos em ser
Uma nula constância.
Um organismo em sua vivência ditada pelas inquebráveis regras de seu inquestionável destino. Recluso e desacompanhado a velejar pelo espaço que o retém em sua procura interminável pelas coisas que permanecem inalcançáveis de seus esforços em vão.