Brincadeira proibida
Quando criança a gente apronta coisas que não têm explicação. Eu me lembro de cada detalhe de uma situação horrorosa que eu e minhas amigas aprontamos, quando íamos aí pela casa dos oito anos de idade. Era aquele tempo em que crianças podiam brincar na rua, aprontando o que quisessem e raramente surgia alguma coisa que destoasse do nosso dia a dia, cheio de normalidade e paz. Pois bem, destoamos!
Duas meninas irmãs e eu, que na falta de "melhor o que fazer", resolvemos largar corda, boneca, bola e o que mais tivesse, para atormentar a vida de um vizinho que morava sozinho ao lado da minha casa.
Então, fizemos uma "reunião seríssima" e decidimos que ele merecia ser incomodado, porque era sujo, não cuidava da casa, tinha cara de bobo e também porque queríamos pegar alguém para ser o nosso "Judas particular".
Ele gostava de música (estava ouvindo naquele momento), era solitário, não mexia com ninguém, educado, cumprimentava a todos com gentileza, muito simples e se retraía todo quando via meu pai ou o meu padrinho, que nunca foram capazes de ameaçar ninguém. Era pacífico e encabulado, só que ninguém é de ferro para aguentar três meninas impossíveis e poderosas. O coitado devia estar tentando descansar pois trabalhava a semana toda e não sei o porquê de ele estar em casa no meio da tarde.
Terminada a reunião, partimos em marcha para o ataque com pedras, pra todo lado. Corremos e nos escondemos logo abaixo da casa, que ficava num barranco. Ele continuou ouvindo suas músicas e repetimos a investida, e assim por mais duas vezes. Saiu correndo quando entrávamos no lote de novo e disse: vou pegar vocês, suas diabas, vou chamar a polícia e vocês vão ver...
Caímos no mundo e corremos mais do que aquela expressão do nosso tempo: "pernas, pra que vos quero"!
Corremos meio quarteirão e chegamos na praça que era palco de todas as nossas brincadeiras. Corremos e corremos e ele atrás. Sumiu uma menina, que entrou num prédio e ele não viu, depois outra que correu pra esquina e fiquei eu com a pesada responsabilidade nas costas, dando voltas na praça. Quando cheguei numa esquina da grande avenida que cortava a praça, vi um policial fardado que ia para o serviço, ou vinha do Batalhão ali perto e não tive dúvidas, cheguei nele e disse… me acode, que aquele homem quer me pegar! Não deu outra! O policial parou o homem e pediu documentos e outras providências e eu me mandei pra casa. Até que ele conseguisse provar tudo (Graças a Deus, porque ele não era má pessoa), tive tempo de chegar em casa, respirar e dizer: "mãe, tô suada, cansada, quero tomar banho e dormir", o que não era normal e ela sem entender nada disse: tá bem! Para poder tomar banho, precisei tirar a auréola de anjo que brilhava em volta de mim, de tanta sinceridade que usei!
Meu pai estava viajando nesse dia, minhas irmãs não viram nada, o homem nunca falou nada, nem olhou mais para ninguém e todas as más línguas, que não eram poucas, diziam que ele tinha medo do meu pai e do meu padrinho.
Quando criança a gente apronta coisas que não têm explicação. Eu me lembro de cada detalhe de uma situação horrorosa que eu e minhas amigas aprontamos, quando íamos aí pela casa dos oito anos de idade. Era aquele tempo em que crianças podiam brincar na rua, aprontando o que quisessem e raramente surgia alguma coisa que destoasse do nosso dia a dia, cheio de normalidade e paz. Pois bem, destoamos!
Duas meninas irmãs e eu, que na falta de "melhor o que fazer", resolvemos largar corda, boneca, bola e o que mais tivesse, para atormentar a vida de um vizinho que morava sozinho ao lado da minha casa.
Então, fizemos uma "reunião seríssima" e decidimos que ele merecia ser incomodado, porque era sujo, não cuidava da casa, tinha cara de bobo e também porque queríamos pegar alguém para ser o nosso "Judas particular".
Ele gostava de música (estava ouvindo naquele momento), era solitário, não mexia com ninguém, educado, cumprimentava a todos com gentileza, muito simples e se retraía todo quando via meu pai ou o meu padrinho, que nunca foram capazes de ameaçar ninguém. Era pacífico e encabulado, só que ninguém é de ferro para aguentar três meninas impossíveis e poderosas. O coitado devia estar tentando descansar pois trabalhava a semana toda e não sei o porquê de ele estar em casa no meio da tarde.
Terminada a reunião, partimos em marcha para o ataque com pedras, pra todo lado. Corremos e nos escondemos logo abaixo da casa, que ficava num barranco. Ele continuou ouvindo suas músicas e repetimos a investida, e assim por mais duas vezes. Saiu correndo quando entrávamos no lote de novo e disse: vou pegar vocês, suas diabas, vou chamar a polícia e vocês vão ver...
Caímos no mundo e corremos mais do que aquela expressão do nosso tempo: "pernas, pra que vos quero"!
Corremos meio quarteirão e chegamos na praça que era palco de todas as nossas brincadeiras. Corremos e corremos e ele atrás. Sumiu uma menina, que entrou num prédio e ele não viu, depois outra que correu pra esquina e fiquei eu com a pesada responsabilidade nas costas, dando voltas na praça. Quando cheguei numa esquina da grande avenida que cortava a praça, vi um policial fardado que ia para o serviço, ou vinha do Batalhão ali perto e não tive dúvidas, cheguei nele e disse… me acode, que aquele homem quer me pegar! Não deu outra! O policial parou o homem e pediu documentos e outras providências e eu me mandei pra casa. Até que ele conseguisse provar tudo (Graças a Deus, porque ele não era má pessoa), tive tempo de chegar em casa, respirar e dizer: "mãe, tô suada, cansada, quero tomar banho e dormir", o que não era normal e ela sem entender nada disse: tá bem! Para poder tomar banho, precisei tirar a auréola de anjo que brilhava em volta de mim, de tanta sinceridade que usei!
Meu pai estava viajando nesse dia, minhas irmãs não viram nada, o homem nunca falou nada, nem olhou mais para ninguém e todas as más línguas, que não eram poucas, diziam que ele tinha medo do meu pai e do meu padrinho.