A GUERRA DOS PÁSSAROS
Na floresta o tempo é sempre o mesmo.
Mal acabara de amanhecer e já se ouvia um grunhido alto e seco espargido no ar.
A passarada pequena, apta e esperta a se defender dos predadores famintos, então começava seu passaredo habitual em busca dum lugar seguro.
Ele, todo pomposo, como é próprio dos grandes e vaidosos, vinha plainando sua asas abertas ao máximo, tranquilamente, com o pescoço empinado e emplumado ao vento, ecoando seu canto de domínio e ensinando que o perigo paira mesmo no ambiente mais inofensivo às aparências.
Logo se mimetizou entre as árvores.
Um beija-flor, desavisado e encantado com a tenra beleza, enxergou de longe uma flor escondida, recém chegada ao mundo, por dentre a trama das copas do bosque sempre fechadas em copas, porque é preciso se defender de todos os poderes invisíveis que moram ao lado.
Sem perceber que o gavião espreitava sua primeira e tão pequenina refeição matinal o Beija-Flor plainou sob seus olhos e sugou o néctar cheiroso sossegadamente.
De longe, um Bem -Te-Vi acostumado a tudo ver, imediatamente disparou a gritar seu canto ao mundo, alçou voo sobre o beija-flor e o desalojou do perigo iminente.
O passarinho, todo fosforescente em meio ao sol que chegava, sumiu dali agradecido ao Beija-Flor que salvara sua vida tão frágil.
O Gavião, sem dó, dono do domínio e da força apenas instintiva, arrebatou o Bem -Te-Vi com seu bico em navalha e o devorou em fração de segundos.
Toda a floresta ficou em silêncio. Não se viu mais nada.
Apenas murmurava-se ali que era ano novo no habitat dos Homens, bicho que nada vê mas tudo destrói em cadeia consciente, animal que apenas aguarda sua improvável redenção sob o nobre aprendizado dos seres das florestas.
Nota da autora: cenas do que vi.