Me leve.

Ela estava sempre presente

lia os meus textos

fazendo comentários que estimulavam a perseguir

o poema perfeito.

(como se houvesse imperfeição em algum verso).

Se fosse alguns dias ficar distante

fazia chocolates em forma de coração

para lembrar a cada momento,

o quanto doce era estar ao lado dela.

A noite ligava pelo desejo

de ouvir minha voz

falávamos frases de amor impublicáveis.

Brincávamos dizendo:

- Desliga você.

Após um tempo terminava sempre falando:

-Eu te amo!

Depois eu adormecia abraçando o travesseiro,

como se colada a mim ela estivesse.

A distância esporádica fazia com que o desejo aflorasse.

Passeávamos de mãos dadas pelas ruas,

tomávamos umas caipirinhas

e ríamos,

de tudo e de nada.

Algumas vezes precisava conferir na carteira

para ver se daria para pagar a conta.

Preocupado se teria que lavar a louça

para amortizar o débito.

Ela pulava nos meus braços para comemorar a vida

encantava tornando único cada momento junto.

Havia uma música do seu cantor preferido que dizia:

"...moça branca como a neve, me leve."

(Era um poema de Ferreira Gullar.)

Cantarolava a canção para ela,

e ela dizia:

-É lindo, mas triste.

Ela amava receber flores nas datas especiais,

eu achava que especial mesmo era estar ao lado dela.

Jamais nos despedíamos em conflito

ela quase entrava na frente do carro

para não me deixar partir.

Antes de sair um beijo selava a paz.

Hoje quando escuto

a canção que diz:

"...se também não possa

por tanta coisa que leve

já viva em seu pensamento,

moça branca como a neve,

me leve no esquecimento."

Envolvido em sentimento

entendi como um convite

quando a canção dizia:

-Me leve.

Eu aceitei...