2020

2020

Com os pés, metrifico o capacho de “Bem-vindo” da soleira da porta do escritório. Sento-me defronte o visor e as mãos vão dedilhando esse que pretende ser um conto. O ponto final me convida a reflexão, enquanto uma voz narrativa tenta me direcionar às facetas desse gênero literário sem rimas. O que quebra o silêncio da noite de Natal é apenas a vibração do celular, foge o pensamento, mas retorna no mesmo átimo de segundo. Não há de ser nada de importante, as pessoas nessas datas mandam aquele velho clichê de sempre. Mesmo por que,

a única mensagem que me interessaria se encontra bloqueada, (como se isso fosse empecilho para eu ser encontrada).

Resignada, pretendo selar esse ano para não me sentir culpada de tantas perdas. Penso em trocar a palavra “resignada” por “humilhada”, a voz do narrador não me responde nada, logo acredito que eu tenha de usar os dois vocábulos.

Pausa no pensamento.

Sei que não sou tão resolvida quanto Lispector, ela com certeza já teria virado a página, porém, assim como acontecia com ela,

a leitura e escrita me salvam.

Suspiro novamente.

A Bíblia afirma, “o humilhado será exaltado”, contudo ando cansada.

Os livros cor de rosa foram trocados pelos clássicos e agora não tenho mais nada para ler, tampouco janela para seus braços a partir de 2020.

Sou um ser completo, pronto para descansar.

Railda
Enviado por Railda em 27/12/2019
Reeditado em 27/12/2019
Código do texto: T6827927
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