Da amargura desses dias

Belém, 25/12/19. (Da propagação)

Eu, Marcos, luto contra a ingratidão desses dias, eu, resoluto do todo, do que é de mais, penso e repenso rápido sobre os meus móveis no vazio, na penumbra. Meu espaço cubículo raso estranho, de paredes brancas agonizantes, cheio de escuros, de vastidão, e somente em tudo para que olho te vejo e te sinto, look at outside life, the flat. Para os pássaros no céu negro azul, não demora para esse toró cair e os carros deslizarem sobre o asfalto, para que as plantas se molhem, floema, alimento e gratidão. dessas mínimas percepções, da mínima harmonia natural sai o caos das santas bocas e dos meus olhos. Eu, Marcos, resoluto e contraposto, sinto saudades de ti, Rodrigo, tenho saudades das tuas formas de ser na sequidão água, e no molhado: gelo, no pranto riso e no riso austeridade. Tenhosaudadesdeti. Das vezes na Batista Campos, ah, quando eras solicitude, quando à noite tu eras ausência e presença nas tuas falas, tuas condutas, discursos. Na tua indisposição.

Em tudo isso te vejo, no todo, na não matéria, nos astros. Eu te peço que lembres de mim, de como me olhou sob o poste, na sintilancia das estrelas, do brega, dos homens e mulheres à praça, e disse tu, Marcos, é da tua boca que saem essas prosas humanitárias, belas, em cadência, teu discurso é um verso, nessa boca d'aonde saem as metafísicas, as críticas, as amarguras, deixas que eu encoste meus lábios e que te cante, aí, Rodrigo, foi quando me lembrou da espessura do belo, das coisas que já foram e ainda serão. Tu és o Tempo, tu me matas a cada segundo - esse, propriedade tua -, me coloca sobre uma linha tênue, Cortas, ainda é tempo de cortar esse fio da maldade, desses dias esquecidos, longes, calmos, tormentos, que linha. Tu és a Terra, coragem e Kadosh, apartado da barulheira dessas ruas, sagrado e confinado em ti, tens a coragem diferente dos homens outros, tens coragem de perguntar sobre os dias tristes, tens coragem de abraçar os teus filhos, de beijar a estátua Olha, tu és congruência, é o universo, o que tu me dizes de ti mesmo? Eu falo por ti, eu como por ti, eu sou por ti, deixas que eu carregue essa acrimônia dos anos que passam, dos anos que nos matam. Tu és Água, és vertigem, rapidez, eu na minha juventude não consigo te acompanhar no teu tempo, eu com meu corpo esbelto e cheio de abismos não consigo te tecer, te escrever, eu... Eu montei uma casa nossa, Marcos, entra nela, enfeita ela, me espera nela, faz da casa teu corpo, quero entrar todos dias, poder desfazer teus enfeites, quero poder moldar, e como água, quero encher e depois escapar. Tu já foste Vento, tu me disseste que andava pelos bares da Cidade Velha à procura de mim, Eu sempre te procurei em tudo, eras tu o porto? O navio? O catamarã? Eras tu as estruturas dos homens Das mulheres com que me diverti? Eras tu a água, o fogo, as plantas? Era tu os bosques? Os igarapés? Sempre foste tu, eu sei disso, agora me contas de novo dos dias.

Barroso Marcos
Enviado por Barroso Marcos em 17/12/2019
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