Matrimônio
Se o mundo vier me perguntar porque se contentar com um pouco d’água com o mar todo a minha frente, eu responderei:
Porque o resto do mar não me seria doce como esta água que lá colhi,
Mas salgado;
Porque o mar não foi feito todo para mim,
E o sabor que sinto nesta água só ela poderia me proporcionar,
Como só eu poderia o sentir por completo.
E perguntaria ainda:
Por que desejar o mar se é impossível possui-lo?
Tê-lo todo é afogar-se nele.
É, em verdade, ele o ter, sufocá-lo, matá-lo.
E se perguntarem por que só uma porção da terra se está o mundo todo a minha frente, eu responderei:
Porque eu cansaria mal começada a impossível empreita,
Pois é impossível abraçar o mundo inteiro.
Porque quem está completamente cercado de terra está em verdade em um deserto.
Porque conhecendo diversos campos, nenhum seria meu lar, e morreria no desterro.
Porque é preciso conhecer bem o local e ter a segurança de que vai ali permanecer para poder erigir uma casa e uma família.
E perguntaria ainda:
Quem, no jardim predestinado,
O abandonaria para viver livre e exilado?