Estamos nos despedaçando

Vislumbres rápidos e embaçados passeiam em desamparo ao arredor que se torna o ambiente mais hostil. Olhos que não encontram mais o centro de outros, por que eles deixaram de conversar?

Por que eles não se abraçam mais? Fora um grandessíssimo equívoco entre amor e repúdio de solidão? Há traços de perfeição escondidos em cada fragmento desta cena, mas encontrarão estes perdidos personagens uma maneira de enxergá-los mesmo que o silêncio os ceguem de racionalidade?

Conformações frias e acenos omissos de vontade. Entre a fraqueza destes corpos, suas conexões se esvaem para intensificar o caos constante deste impasse. Ele confirma suas suspeitas nas linhas de seu rosto, ela estabelece o ritmo desta agridoce trilha sonora que sussurra certeza em suas fatídicas melodias.

Fome inegável por palavras, como uma tortura, as necessidades fluem até que seja cedida uma resposta, uma indesejável verdade. Da dor sangra paixão, um néctar que sacia e embebeda as frustrações por coerências, uma interminável fonte de razões.

Eles estão brigando de novo, mais uma noite preenchida, mais uma manhã esvaída.

Apelo irresistível pelas possibilidades que tudo volte a ser como era há inalcançáveis poucos dias atrás. Ele está dúbio por um amanhã, ela não tolera mais um hoje.

Eles estão se despedaçando, esta é a não mentira que sobrecarrega seus corações, uma exaustão febril a qual delira a alma enferma e escassa por toques, palavras e emoções.

Um corte de laços como um golpe final. Uma decisão que predestina arrependimentos é a mais possível solução entre fantasias e devaneios que orbitam em suas ilusões.

No fim de tudo, quando o Sol pairar sobre as cinzas desta ruína cheia de histórias de um passado maravilhoso, eu serei quem lamentará de joelhos ao inescapável luto, eu serei quem escreverá eternamente o que não tive a coragem e a capacidade de confessar os pecados que agora subsidiem em meu presente e futuro desprovidos de ti.