Perto de você, faltava-me oxigênio... Minha voz tremulava e flanava sem sequer articular aquilo  que eu queria. Talvez você nunca o soubesse. Pois afinal, tanto tempo crescendo juntos, cada um para um lado, seguindo trilhas diferentes e inclinações díspares. Não demonstrava meus sentimentos e nem condolências. Mantinha indefectível meu ar blasè... como um final de tarde sangrento, num horizonte lilás. Você me inspecionava, começava pelos pés e, ia subindo, e finalmente, encontrava meus olhos, mirava-me como um pelotão de fuzilamento. E, ainda, perguntava-me sobre meu derradeiro desejo. Anos se passaram. Histórias e estórias começaram e se findaram. E, você só foi apenas reticências. Nunca começamos, portanto, nunca acabamos... nossas mãos frias se cumprimentavam formalmente, e pálida,  ainda sorria noblesse oblige... Quando soube que eu era uma das premiadas, limitou-se a afirmar, que sempre soube e, que jamais desacreditou em meu talento. Convidou-me para uma taça de vinho no lounge, e discretamente, revelei que tomava antibióticos e que não poderia cortar o seu ciclo... Mais um ciclo, aliás. Mais um sentimento tardio a sapatear sobre o destino... I am singing in the rain... just sing in de the rain... Dançando na chuva, e sendo a chuva  bendita, que lava tudo. Lava a cena, lava a alma e os remorsos latentes. Viva o solvente universal!
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 13/12/2019
Reeditado em 13/12/2019
Código do texto: T6817995
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