Passa(-)tempo sem tic-tac e entre uma tosse e outra a pergunta que não quer calar: - Sentimento nobre com quatro letras, a última é R. Chuta? Com a cruzadinha na mão, esperava a resposta, não fosse o rádio tocando a história apelidada de sofrência pelo sertanejo universitário, liquidificador batendo em ritmo de quebra-gelos e o cachorro latindo, quem sabe o ouvido poderia devolvê-la dignidade (perdida) em tons de ironia: - Velha e agora surda. Um tapinha nas nádegas a trouxe de volta (ao planeta dos macacos) enquanto soprava o feijão batido fervendo na panela. Toda vez que o olhava, sentia cócegas na alma e soltava um riso frouxo em forma de negação. Os cobertores lavados à mão nas últimas quatro décadas, os soluços debaixo do chuveiro é que foram os amortecedores das lágrimas que fugiam enquanto o amor era requentado em panela de vidro. Quebrou tampa, explodiu em pressão, mas guardou o cheiro das fronhas do travesseiro. Sobre a mesa, a xícara que carregou noites em claro, por causa do corpo que padecia (cobertor de orelha em silêncio quando ouvia a dor que emitia um som de empatia que impregnava). Acariciou o estômago com a leveza de um mingau doce, tal qual o gesto. No colchão da vida guardou seu maior tesouro, nem palha, nem ouro, em dias nublados. Cata-vento inspirou um sonho de faz de conta quando o filho do patrão viu borboletas em chapéu de palha. Se não era amor, encanto. Se valeu do amor, um canto... O amor paga promessas enquanto reza a lenda “a gente nasceu pra ser feliz”.