Nexo explícito

É insalubre o que vem a seguir.

Não posso fingir compostura

ao encontrar os meus versos

cobertos de óleo, fogo e lama.

Sou da parte que clama

por reparação.

Que justiça se fará

a partir da premissa

que enobrece o avesso?

Confesso: já tive apreço

pelos super-heróis de capa.

Aqueles com uniforme azul,

vermelho e branco.

Tanto pedi por ajuda,

por minha dor e desespero,

mas não houve resposta.

Aposta perdida.

Desde então, fiquei estudado.

Este desdém calculado

era por demais proposital.

A prosperidade do mal

haveria de continuar

para perpetuar o emprego

dos nobres paladinos.

Recomendação:

retirem os bambinos da sala.

Daqui por diante,

usarei de pornografia,

de sentenças nuas,

tão rijas quanto tuas

certezas.

Torpezas que negas

ao extremo praticar.

Daqui por diante,

o nexo será explícito.

- Agradeças tu o sobreaviso.

- Deus lhe pague.

- Deus lhe pague não, me pague você!

É que me deu enguiço no assunto,

reboliço psicológico, sabe?

E agora, dois com seis

noves fora.

Azar de quem não aguentar.

Por isso, peço indenização.

Estou inapto a redigir romances,

lances com amenidades e,

certamente, a audiência baixará.

Apelarei às cortes.

Primeira, segunda,

terceira instância.

A ignorância parece ir além.

Antes fosse alguém,

antes fosse fidalgo

ou tivesse algo de privilégio

na fila do abatedouro.

Não sou de ouro nem nada,

tenho a pele mesclada

de giz e carvão.

Por um triz, sempre escapo

do baculejo, do camburão.

É assim que se vive,

sobrevive do lado de fora

dos muros do castelo,

meu irmão.

A saber:

coisa muito grave e séria

é ver a irmandade na miséria

por tais monumentos de opulência.

Nos vilarejos feitos favelas,

as vielas choram sangue,

o bangue-bangue rola solto.

- Tome aqui rapaz

o seu copo de pinga

e mais outro e a saideira.

Tome um fogo, carraspana.

Essa é da boa, chapa coco,

pra dormir uma semana.

- Agradeças tu a gentileza.

- Deus lhe pague.

- Deus lhe pague não, me pague você!

Não aceito real,

a realidade está desvalorizada

e a realeza ainda flerta

com a monarquia.

Juro que ia pagar em dólar.

Rá! Esses bem-intencionados...

Já vi esse filme antes

e aos desavisados digo:

- Há perigo. O fim está próximo.

"Quem vende fiado

tem pouco juízo

perde o cliente

e sofre prejuízo".

Mostrava a placa do bar.

Não deu tempo de tomar

o último gole.

Corpo mole em bala dura

cai na cova, sepultura.

- Agradeças tu pelo descanso.

- Deus lhe pague.

- Deus lhe pague não, me pague você!

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 12/12/2019
Reeditado em 12/12/2019
Código do texto: T6816873
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