Dois momentos

Certa noite ao chegar em casa não encontrei meus pais.
Logo os amigos da vizinhança avisaram-me que meu pai havia enfartado e tinha sido internado.
Dirigi-me ao hospital público, era madrugada, e lá chegando deparei com minha mãe sentada, ao relento, na plataforma do pátio em frente a portaria.
Lembro bem, foi uma cena, triste e comovente, que marcou-me profundamente.
Ali estava uma mulher guerreira, sofrendo por nada poder fazer a não ser rezar.
Ela, que ao lado daquele homem construiu uma vida
de exemplos, dedicação e amor esperava por um milagre.
Milagre esse que não veio.
Mais marcante ainda foi quando resolvi entrar sorrateiramente no hospital.
Naquela hora não era permitido visitas, mas eu precisava 
vê-lo e trazer notícia sobre seu estado de saúde.
Depois de muito procurar pelos corredores
encontrei a enfermaria.
Lá estava ele ligado aos aparelhos em seu leito de morte.
Olhou-me com dificuldade.
Não pude entrar, mas mesmo ali da porta, senti seu sofrimento e tive a certeza de que seria a última vez
que nos veríamos em vida.
Convidado a me retirar pelo enfermeiro fui ao encontro de minha mãe e voltamos para casa.
Nada mais poderíamos fazer, e realmente pela manhã
recebemos a notícia do seu falecimento.
Perdi o meu grande amigo.
Saudades.
Fernando Antonio Pereira
Enviado por Fernando Antonio Pereira em 06/12/2019
Reeditado em 06/12/2019
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