A Morte do Poeta.
Uma semirreta viscerosa guiava-me a caminho de lugar algum.
Meus pés calejados pisoteavam farpas de rosas negras
E deixavam para trás um rastro quase simétrico de sangue gélido.
Um nevoeiro inexorável tomava conta de meu horizonte,
Os arboredos mortos me espiavam no canto de seus olhos e sussurravam entre sí;
Mas encontrava-me surdo e sequer os podia escutar.
Eu estava ébrio de melancolia,
Andando errôneo na esperança de aproximar-me da morte.
Um palmo à minha frente, nem isso conseguia enxergar;
O branco véu da vida alegorizado por pérolas negras ria de mim;
Nada me restara, senão meia garrafa de vinho e um crânio oco.
E depois de tanto andar, quando já não havia sangue para expelir
— Ou lágrimas para chorar — Encontrei meu sepulcro, e debruçei-me lá.
A pálida face da estátua de gesso encarava-me de cima para baixo,
C'um olhar ácido e agonizante que perfurava minh'alma.
Chovia, e cada lágrima do céu cinzento terebrava minha carne como uma navalha;
Naquele momento, minha eutanásia! surtos de lembranças dominavam minha mente,
O murmurar das memórias ecoava em meus ouvidos, e os faziam sangrar;
Cada mal amor, cada morte e cada pecado, eu os revivia todos de uma vez,
E quando cessou-se este ataque de humanidade eu finalmente estava morto;
Pálido sobre meu túmulo com as mãos sobrepostas ao meu corpo.
Talvez este tenha sido o único momento de felicidade sincera que eu tivera até então.
Morrer foi o maior prazer deste poeta cinzento.