Da Jangada
Talvegue
Vai desaguar lá na frente este rio escuro
Eu sou seu entulho
Feito de pedra e de chumbo
Guardo em meu casulo outros meus casulos
Espero boquiaberto outro rumo
Enquanto nadar me leva roto ao âmago
"Roubar", vêm dizer os bárbaros,
"o que houver do mundo"
Qual todo remédio veneno ser no fundo
Disto se soube de intuito
Quando me dava por recurvo
Enrolado vez e outra meu punho
Num outro punho pai
Ai, quem dera mais?
Vivera doutro rio, numa sorte de navio,
Que dissolvera a espera,
Chegando derradeira
Minha sorte ao cais
O Homem e sua Jangada
Ouço da boca do povo, cada canto qual transbordo
Mais uns tantos, meu destino em meus desvios
Minha luz d'água refrata minha sombra atrapalhada,
"Sou jangada somente", repito, e repetir lhes diz nada
Meus sentidos nos bolsos, minhas mãos ao rosto,
Minha fala calada, marcando o tempo do remo
A embarcação cessa, luta o rochedo,
Saltando vejo um louco olhar feito
Que navega ao outro lado do espelho
Um pandemônio em meu esboço
Meu fogo resistir o contra-elemento
Sair-me glorioso deste ajuntamento
Para desfazer os costumes, o sopro
No coro divino e velho mal do todo