Da Jangada

Talvegue

Vai desaguar lá na frente este rio escuro

Eu sou seu entulho

Feito de pedra e de chumbo

Guardo em meu casulo outros meus casulos

Espero boquiaberto outro rumo

Enquanto nadar me leva roto ao âmago

"Roubar", vêm dizer os bárbaros,

"o que houver do mundo"

Qual todo remédio veneno ser no fundo

Disto se soube de intuito

Quando me dava por recurvo

Enrolado vez e outra meu punho

Num outro punho pai

Ai, quem dera mais?

Vivera doutro rio, numa sorte de navio,

Que dissolvera a espera,

Chegando derradeira

Minha sorte ao cais

O Homem e sua Jangada

Ouço da boca do povo, cada canto qual transbordo

Mais uns tantos, meu destino em meus desvios

Minha luz d'água refrata minha sombra atrapalhada,

"Sou jangada somente", repito, e repetir lhes diz nada

Meus sentidos nos bolsos, minhas mãos ao rosto,

Minha fala calada, marcando o tempo do remo

A embarcação cessa, luta o rochedo,

Saltando vejo um louco olhar feito

Que navega ao outro lado do espelho

Um pandemônio em meu esboço

Meu fogo resistir o contra-elemento

Sair-me glorioso deste ajuntamento

Para desfazer os costumes, o sopro

No coro divino e velho mal do todo

H Reis
Enviado por H Reis em 05/12/2019
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