A Gentileza
A Gentileza
Cassia Caryne - 05/12/2019
A gentileza deu as mãos à paz e saiu pra passear. Passou por canteiros floridos, esbarrou nas flores perfumadas e levou um pouco do perfume nos pés. Atravessou pontes e aprendeu que pode-se vencer gargantas profundas no solo, desde que hajam travessias construídas a quatro mãos. Passou no adro das igrejas, benzeu-se e reverenciou ao seu Deus! Passou por guetos e visitou a miséria, conheceu a fome e a indignidade humana. Desavisada, caiu na favela, e conheceu o medo, o trabalho duro, a lei silêncio e a obscenidade. Passou pelas dores do hospital e saiu cheia de cicatrizes indeléveis, dolorosa gratidão. Saiu da cidade e caminhou pelos roçados das fazendas acanhadas, viu suor e trabalho árduo ali. Adentrou no bosque e soube aproveitar a luz rala, o frescor das sombras, o regato de águas frias e cantante, além de degustar as amoras pretas e doces, tingindo dedos e boca. Saiu de lá serena e leve. Fez o caminho de volta, entrou em casa.