O Vestido
Estivera o tempo por fora
Contou-se dedos conseguidos
Rogou-se momentos infindos
E pôs-se à casa dora
Defenestrou o que houvera,
O figurino do corpo,
No topo, o todo, como tropo,
O rosto que ainda tivera
A face que bem carregava,
A qual manteve cansada,
Com a mesma firmeza atada,
Qual, tão obstante, nem alçava
E guardou também o hino
O ritmo da praça
A roupa de traça
O corpo de felino
E velou bem o espelho,
Escondeu-o da janela
Do sapato, a mazela
Esqueceu meu conselho
E já que ora dorme
E nem faz sentido
Reentrajou o vestido
Aceitou o sonho desforme
A noite como castigo
E na cama, quase nenhum abrigo