Mercado de Peles
Minha pele esticada
Meu sangue pintado
Meus ossos tratados
Alvos, moídos
Meus miúdos cozidos
Meus olhos lavados
Meu ventre ebulido
De entranhado curtume
Meu receio aflorado
Meu destino ditado
Minha vontade vencida
Minha verdade vendida
Meu sorriso desfeito
A alma sopesada
Minha coragem de tigre
Na mesa, esquartejada
Minha voz ao púlpito
Minha vergonha ao público
A roupa vestida
Me costurando a pelica
Meus três vinténs
Meu pouco pecúlio
Transparente opróbrio
Vilipendiado escrutínio
As mãos ferradas
Pescoço laçado
Unhas cravadas
Dentes cerrados
Isso tudo um pouco é desejo
Canto de gaiola
Doido uivo, muito esmero
Coisa tola
Coisa torpe, torta
Coisa parca