Soturno

Quantos bilhetes já não escrevi para quando me acharem morto

Quantas vezes já não suspendi meu corpo

Quantos não foram os dedos, os rostos e os juízes do agouro

Quantas imagens em deboche e sangue espelhando meu contorno

Quais levantam lá e tão altos velhos corvos

Que me vociferam e me devoram abutres os ossos

Quando não me falou a voz da verdade

Com toda a maldade e intransigência de seu ataque

Quando não me arrastou o bruto oceano

Com a vontade de mil raivosos anos

Quem ouviu de mim algo que não uivo

Senão o silêncio que faço nos momentos mais turvos

Quem disse meu nome que não em anátema

Senão amaldiçoando a golpes, mazela e enfisema

Revolverei hoje, mais uma vez, no desespero

Ou sobrecairá um raio derradeiro

Converterei a lâmina em contravida

Ou contraída e contínua mais uma vez estará minha sina

H Reis
Enviado por H Reis em 01/12/2019
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