A tristeza do poeta

Eu te amo com tristeza, singela tristeza do adeus - oh, vida minha, te amo tanto que recusei o convite de Deus para ir morar no céu! Ele tentou-me, como Lúcifer tentou Cristo no monte, a convencer-me de que tudo era passageiroo, e que, no fundo, nada valia a pena; dissuadiu-me de que eu sofria por pura ignorância. Precisei apenas de um vislumbre da eternidade para de bom grado querer morrer como homem.

Eu só sei chorar, eu só seu sofrer; só isso que sei fazer. Até isso Ele quis tirar de mim; deu-me tudo para mostrar que nada tenho. Tudo bem, eu compreendo, nem mesmo meu corpo é meu, mas deixe-me iludir-me. Quem me importa a felicidade! Almejo a minha Obra, meu destino. Nem a melhor, nem a pior, nem boa nem ruim, mas a minha vida. Sigo meu caminho, siga o seu sem mim. E se não gostou, vá - lança-me no fogo, arranque tudo de mim, como fez com Jó, mas enquanto não me matar continuarei a fortalecer o amor que sinto pela vida. Morrerei como um mortal, pobre poeta adorador dos cheiros, fanático adorador das cores e formas, cantando lira para o tempo, abrindo covas pra mim mesmo.

Ó, minha Vida, como eu te amo!

Tudo que amei, amei sozinho; amor singular, amor de anjo, amor de mãe. Pois esta vida que deu-me, eu a criei como a um filho. Eu pari uma nova vida, tirei-me a ferros de mim mesmo.

Já o sono pesa meus olhos lânguidos marejantes de cristalinas lágrimas de alegria, assim termino este escrito que um anjo envia para Deus.

Observando as estrelas sorrio, misto de tristeza e alegria, como quem chorasse o próprio destino. Adormeço; rola uma lágrima pelo rosto, toca o chão. Misturo-me à Terra. Sou tudo.

Em sonho, canto - Ó, Deus, por que me fez poeta!" ...

Fiódor
Enviado por Fiódor em 29/11/2019
Reeditado em 29/11/2019
Código do texto: T6806611
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