Ó Terra Boa, Terra Boa

(Texto de 1 Projeto de livro/ a ser publicado)

Capítulo 11

Ó Terra Boa, Terra Boa

Sonhei:

Chovera. Pisei na poça de água. Água limpinha, transparente.

Uma carroça descia a estradinha, subi nela. A roda rangia – unhééé.

Fiquei atento, lá embaixo, no areião, os pardais saltitavam.

Chovera. Suavemente, as folhas das árvores balouçavam;

Pus os pés descalços naquele chão amigo, que tanto conhecia.

Um pardal arisco correu, parou, correu mais um pouco, parou de novo.

Ele não me olhava, fingia indiferença à minha presença.

Fingia que estava olhando para as árvores. De canto de olho me observava.

O sol, era de manhã, ia vencendo a nevoazinha, o encardido da neblina.

Andei, corri, pulei. “Como é belo o despontar da existência, respira a alma inocência, como perfume a flor.”

Com eu podia imaginar que um dia, em breve, meu Norte não seria mais meu?

Chegaria o dia, ai, ai, que aquele não seria mais o meu mundo.

O rio Ligeiro não correria mais ligeiro, a marcar a metade da minha viagem Terra Boa – Cianorte.

As vendinhas na beira da estrada deixariam de existir em minha vida;

Seriam apenas lembranças guardadas na caixa-forte da memória;

Doendo, doendo e doendo.

O tempo é implacável. Leva tudo, leva todos. Ah, tempo!

Minha mãe, meu anjo. Por meio dela, a vida me sorria.

Quem me dera pisar nas ruazinhas em que a correnteza da chuva deixava marcas suaves, mas bem marcadas.

Um dia depois da chuvarada, quando o sol voltava a dominar os cafezais, os pés de mamona, a grama verdinha, os paióis e a palha de milho – via-se o carreadorzinho feito pela chuva na beira das calçadas – que não eram calçadas. Eram de terra lavada pela chuva.

Para onde você foi meu Norte do `paraná? Minha Terra Boa.

As praças, os homens de camisa surrada, chapéu bem usado, prosa bem caprichada.

As mulheres, mãos operosas, mestras do bem maior: calor humano.

Minha vó Paula. Quando eu ia visitá-la, sempre tinha um franguinho, criado no quintal. Este, ia para o sacrifício. O neto vinha.

Tia Nilza – sempre um abraço sincero, uma acolhida calorosa. Para onde vai tudo isto, quando nossos entes queridos partem para muito além do sol?

Não ando mais descalço. Não colho mais as espigas de milho com a mão. O café vem em pacote. Os frangos não têm penas, cor, olhos, e não mais cacarejam. Nem mesmo os galos cantam. Eles vêm agora, dentro de um saco plástico, cabeça cortada, pés tafuiados dentro deles, gelados.

Como vou esquecer o aroma, o cheiro do café sendo torrado?

Como vou esquecer o cento de laranja sendo despejado atrás da porta?

Meu avô, abrindo a loja A Confortável. O tio Sebastião queimado pelo sol da lavoura. O Albininho. O Betinho. Meu pai chegando em casa para contar histórias. Minha mãe dando conselhos. O alto falante. A Neuzinha. O sol. O carreador.

Rios limpos. O tanque do Noboro – que minha mãe nunca nos deixava ir sozinhos. A garotada toda ia. Eu e meu irmão não. Ah, mãe!!!

Poxa vida! Para onde você foi meu Norte do Paraná?

Onde estás Terra Boa?