Devaneio (I)

Por mais que eu tente dizer não a todos esses sentimentos que se chocam aqui dentro, o máximo que consigo fazer é assistir calada ao meu próprio fim. De que vale resistir tanto se ao dormir são novamente eles que reinam em mim?

Não posso. Não, não! Está errado. Até porquê... Olhar-me com esses olhos? Ele? Jamais... (?) Não! Estou confundindo tudo. Não quero nada com ele! Nunca quis! É tudo criação da minha cabeça confusa. Estou estudando demais, é isso. Só pode ser isso.

{Mas e todos aqueles beijos, olhares e carinhos trocados 'sem intenção'? Aqueles abraços calorosos, aquela espera ansiosa todas as vezes em que cogitávamos um encontro, aqueles elogios soltos em meio a situações que não chamavam isso? E todas aquelas insinuações e sutilezas que sempre deixaram claro que havia ali algo a mais...?}

Não. Estou lúcida, sei que não há nada aqui além de um afeto inocente. Mas os objetos ao meu redor mentem. A taça pela metade, o cinzeiro cheio, as roupas - recém-tiradas - espalhadas pelo chão, a fotografia dele. Malditos objetos! Insistem em me dizer que eu o desejo; que os sonhos com ele são apenas reflexo do que me nego a enxergar quando estou acordada; que há realmente a chance de estarmos juntos um dia - mesmo que 'um' seja, nesse caso, não artigo; mas numeral.

O cheiro dele impregnou-se em mim - em meu pescoço, em minhas roupas, em meu sofá - de maneira que não posso pensar em outra coisa, senão em seu toque. Mas estou lúcida, e isso exige de mim uma postura séria.

Por hoje eu decidi continuar sendo apenas a garota dos "incríveis olhos verde-musgo". {Embora meu coração diga que sou não apenas uma garota com belos olhos, mas a garota "dele".}

Nica
Enviado por Nica em 04/10/2007
Código do texto: T680407
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