O PRAZER E SUAS FACES

O ente sem prazer é doente

o prazer do bebê, a boca leva ao peito

o prazer da criança aguda-se com brinquedos

o adolescente descobre que é diferente

o jovem abandona as fantasias

o adulto explora e extrapola

a vovó agita-se com o moderno

o vovô pensa que é eterno

o papai ver-se livre das dores de cabeça

a mamãe abusa do espelho

o titio desliza os pés sob a mesa

a tia, na cozinha, conta suas proezas

a prima sempre tem um chamego

o primo aproveita-se dos segredos

o irmão denuncia a namoradeira

e o prazer da irmã é ser a única e a derradeira

para os namorados, um horizonte sem fronteiras

para os noivos, uma data sem barreiras

para o recém-casado, é não se surpreender

e os pós lua-de-mel esquecem que têm prazer

Para os religiosos, a austeridade

e o político busca a imunidade

o perfeccionista não tem prazer

o preguiçoso é não ter o que fazer

o embusteiro tem prazer com os incautos

os pequenos se alegram com os mais baixos

a viúva é a instituição de caridade

e o melancólico busca a sinceridade

o masoquista o auto sofrimento

o sadista delira com o alheio padecimento

quem jubila no trabalho ostenta maturidade

o sazonado galga estabilidade

ricos e famosos vangloriam no poder

o pobre descreditado, dívidas sem haver

o valentão tira proveito da debilidade

o fraco espera por um milagre

e o covarde recua até quando tem oportunidade

Aqui estão as poucas faces do prazer

algumas são enobrecidas

outras classificadas como desmerecidas

na bainha desta prosa fica a questão:

qual é o seu maior prazer?

A motivação do ente são (saudável) é a satisfação.