Silêncio
Dormem as madrugadas. Faz-se silêncio nas ruas onde meninos correm o dia inteiro e velhinhas contam suas histórias de meninas. É preciso saber ouvir o silêncio dentro e fora da gente. Aquietar-se num canto da alma para guardar a raridade do silêncio materno. Sem ruídos vivemos em harmonia com o universo e deixamos rastros silenciosos na calçada. No útero das nossas mães a quietude traz imagens do silêncio do lado de cá da vida. Rodopia a menina no ar e a plateia em silêncio se espanta com a bailarina de sapatilhas escuras. O riso do menino é silencioso para não acordar o seu bichano e a vovó faz oração silenciosa. Na vida contemporânea buscamos os silêncios dos mais singelos lugares para fugirmos do barulho das metrópoles, andamos quilômetros atrás do vento que nada diz e mesmo assim muito fala. A melhor resposta é o silêncio! Nas bibliotecas o silêncio é quebrado apenas pelo barulho do passar de páginas dos livros raros. Há silêncios nos hospitais onde a dor grita e a morte silencia o moribundo? E quem guarda silêncios em gaiolas? Como vive? Qual canto ouvirá ao amanhecer?