Máscara

Perturbador espaço entre nossas mãos não-dadas, o vazio de sentir-se apartado de si, a luta da própria alma ao tentar emergir. Ai, que pesadas correntes arrastamos! Teimam em nos prender nas solitárias do medo, culpados pelo grande crime que jamais cometeremos.

Fere-nos a luz do dia, ao revelar-nos a figura que profundamente recusamos. Enquanto imagem pela qual nos esforçamos e mantemos é para nós o escudo contra a verdadeira alegria. Nos olhares que desviamos, as possibilidades de vermos o reflexo de uma natureza ciente, forte e decente como nenhuma outra, munida de uma coragem provada. Sincera.

E mal se deixa conhecer essa face confusa! Se tal impostor em seu disfarce bons olhos tivesse, jamais se esgueiraria nas sombras para que seu coração não veja os falhos atos de suas mãos. Antes os encararia a fim de garantir que eles não mais o embaracem. Haveria domínio sobre o que nos detém, ganharíamos das fraquezas defendidas por ausência da verdade.

Mas chegará o momento da nossa descoberta, o argumento inegável a base mais poderosa, dispensaremos buracos negros de estimação em nossa estrada, voltaremos para casa, refaremos a rota. Ao chegar à linha de chegada veremos essa grande corda, mesmo bamba se estende por toda a jornada, o buscado equilíbrio sempre esteve à nossa volta... É simples, estável e pacífico: é isto!

[Escrito em 29/04/2019]