Fazer poético
O fazer poético acontece todos os dias dentro e fora da gente. É aquela alegria no peito por ver um elefante em uma nuvem, aquela chuva fininha que cai na madrugada e faz barulho no telhado da velha casa ou, simplesmente, aquele portão de cemitério entreaberto. A morte também é poesia. Todos nós estamos envolvidos no fazer poético, pois todos somos artífices da poesia. O existir por si só já é um fazer poético. Não é à toa que os cientistas estão buscando criar robôs que se emocionem e tenham sentimentos, isso também é um fazer poético. A poesia nasce das mais singelas coisas, nos mais diversos lugares ela entra e faz morada. Ali, trabalha noite e dia para fazer do homem instrumento de paz e amor. Às duas da manhã o poeta que era meu vizinho costumava fazer poesias conversando com as estrelas. Ele não sabia que o seu fazer poético tocava a minha alma e que no fundo eu tinha inveja da sua poesia oral. Quem faz poesia, faz mundos dentro e fora de si. A poesia nasce do fechar de um botão ou de um abrir de portas, faz-se poesia nos canteiros das grandes avenidas com os rostos cansados dos motoristas a olharem os flanelinhas limparem seus para-brisas. O fazer poético debruça-se nas esquinas do ser em detrimento do benquerer.