II

Tentar descobrir um corpo de um poema

É como tentar descobrir cada poro da tua pele.

Fico-me! Demoro-me.

Respiro-te!

Sustenho-me para que o tempo não passe.

Contrario-me ao que me compele e

Contraio-me para depois me deixar levar

Até me sentir trespassado e sem ar,

Quando me invades com o teu cheiro

No teu abraço lânguido de pura energia

E então escrevo, não o poema

Mas uma síntese das demoras quando que me tomas

E saio de mim, à revelia de mim mesmo

deixando o meu Eu no teu (M)Eu.

Olho muito tempo o corpo do meu poema

Até que perco de vista o que não seja o corpo.

Até me diluir na pena trémula que não me detém,

Nesse sorriso que muitos chamam boca

Mas para mim é chafariz em tarde quente…

É mais que uma coisa boa.

Tento descobrir o corpo de um poema.

Naufragando em ti,

Abandonado na tempestade mansa do teu corpo.

Oiço a tua respiração compassada com a minha e

Desaguo palavras como manhãs de sol nascente

Quando me invades

quando me tomas

e me deixas dormente.

Rodrigues Miguel
Enviado por Rodrigues Miguel em 11/11/2019
Código do texto: T6792330
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