II
Tentar descobrir um corpo de um poema
É como tentar descobrir cada poro da tua pele.
Fico-me! Demoro-me.
Respiro-te!
Sustenho-me para que o tempo não passe.
Contrario-me ao que me compele e
Contraio-me para depois me deixar levar
Até me sentir trespassado e sem ar,
Quando me invades com o teu cheiro
No teu abraço lânguido de pura energia
E então escrevo, não o poema
Mas uma síntese das demoras quando que me tomas
E saio de mim, à revelia de mim mesmo
deixando o meu Eu no teu (M)Eu.
Olho muito tempo o corpo do meu poema
Até que perco de vista o que não seja o corpo.
Até me diluir na pena trémula que não me detém,
Nesse sorriso que muitos chamam boca
Mas para mim é chafariz em tarde quente…
É mais que uma coisa boa.
Tento descobrir o corpo de um poema.
Naufragando em ti,
Abandonado na tempestade mansa do teu corpo.
Oiço a tua respiração compassada com a minha e
Desaguo palavras como manhãs de sol nascente
Quando me invades
quando me tomas
e me deixas dormente.