Madrugueiros de si

Você começa a frequentar

as próprias madrugadas de solidão

e fica viciado

Muda o seu relógio biológico para voltar,

assíduo

na madrugada de si

Espelho, espelho meu

A madrugada se enfeita

e seduz

Faz frio na madrugada

A brisa é geladinha

Há o silêncio

Há o perfeito estado

entre silêncio e som,

no canto dos grilos

e nos barulhos espontâneos

da cidade

Um carro passa na rua em frente,

devagar e macio,

suas rodas de borracha e ar

massageando as pedras do chão

Na madrugada

o existir é mais denso

A madrugada te engole,

rumina

e cospe

na parede do agora

Presença

No limbo da calmaria

Madrugada é trégua.

Lave o rosto

nas águas sagradas da pia,

nada como um dia

após o outro dia

Salve Racionais

Axé aos orixás

Até às preocupações

adormecem na madrugada

Às vezes a madrugada é leve,

aproveite

Às vezes nem tanto,

suporte

Há vida nas madrugadas

Há ainda mais vida

nas madrugadas de solidão

dentro de cada um mundo à fora,

que sintoniza a mesma frequência

nesse espaço de tempo

que nos acolhe

Sinta meu abraço

e meu riso leve,

minha reverência

a você que batalha a vida

diariamente

Você que lapida

algum significado

nessa ilha de lost

Tmj

Tá pauleira

O chicote tá estralando

cada vez mais forte

no lombo dos de sempre

E a vida real acontecendo

numa velocidade alucinante

Quando se vê, já são 6 horas

Tempo é dinheiro

e nós sem os dois

Desistir é sempre um pensamento,

uma questão

Enquanto compartilham essa ladainha

nas mídias sociais

sobre suicídio,

volta e meia

nos achamos na beira

de nosso próprio precipício

Saltar,

ou retornar pra lost?!

Eis a questão

Máximo respeito

por suas questões,

não sei mas imagino,

à partir das minhas próprias dores,

tento compreender as suas

Desejo sorte na caminhada,

na busca,

desconfio que o significado está aí,

só esconderam de nós

e nos deram motivos errados pra viver.

Mas tá aí,

contigo e comigo

Com todos nós,

madrugueiros de si