Apologias de um viajante / conteúdo Ebook
E/Livro
Apologias de um viajante
I –
Perscrutar...
no voar rasante
roçando o canto das sereias
na neblina repartindo nuvens
tornado, vento-aval
nas franjas do mar
afagando ondas
lambendo
restos do luar no temp’oral...
Nos graves versos do Oceano
andei a sondar amanhãs ...
II-
Navegar ...
Sentimento galopa estilizando paisagem
vento sul reparte e tinge os cabelos de fuligem
imensurável grandeza, ardor, quase miragem !
Rumores dos astros como novelos em vertigem...
Tropeços do casco cingem o veio e aragem
verdades que meus olhos castanhos exigem
peixes, algas sem pudor, miro nas águas coragem !
Registram as mãos ainda alvas, a mensagem
Velas altivas tocam o azul, cala alva passagem...
No rajar das encostas, pássaros em retirada
mais lindo é poente refletido em sua plumagem ...
Almejamos ninhos, abrigos na enseada
porém o pensamento não deseja ancoragem
é barco pronto à partida, nau desejo onda, vida revirada !
III-
MAR DE DENTRO
Minha Canoa, berçário de sonhos
além terra meu sustento
dividindo com gaivotas
o mar adentro
Canoa querida me leve além
a beijar o céu
salgar meu rosto
adoçar meus saudosos olhos
Marolando canto faceiro-
o mar é meu
Oh! misterioso destino
entre as ondas-nuvens a descobrir...
Contigo minha querida Canoa sou feliz !
Torno-me peixe flutuante, tronco de velha árvore,
mar, céu, sol e vento...
Passado, presente, futuro...
Contigo um só corpo, úmido, inteiro ...
IV-
Cumplicidade
Do terno encontro, como o sussurro do vento
Trago sabor do caju maduro na lembrança
O desenho que ficou na areia; contentamento
Lançada à voz do mar a esperança ...
Andávamos com descalços alma e pés ,
Como é o coração da criança
Havia esteira de palha chapéu de amarelo viés
E o entusiasmo aliado a bonança...
Contemplávamos o horizonte
vestidos de azul e confiança
Ao entardecer transbordante
Banhados pelos odores marinhos
Os sonhos dançavam no hálito das palavras como lança
Ao crepitar de estrelas firmamos novos caminhos ...
V-
Das articulações invisíveis
nos silêncios mais íntimos das madrugadas
no pulsar da chama acesa
na audição solitária de Bach
no mais ermo recanto da terra
o mistério nos aproxima
águias, pombas, gaivotas
seres do silêncio
a quem nada escapa
ouvido atento
aos chamados dos ventos
ah!
nós que ouvimos um pouco
cremos nas flautas
nos tique taques
nos assovios
a menor dissonância
atentos
em nós sempre um berço
um terço a mais
pianiedade
VI-
Adágio de outono
em Si acolhe um término
em Lá um recomeço
em Fá algo por fazer
em Sol a esperança ainda em botão
em Dó as despedias...
em Ré a lembrança necessária
e
um desejo em Mi que não cala
rever o desabrochar das primaveras
VII-
Viajantes
I –
águas e flores
vi no calor das rochas
ilhas futuras ...
II –
lua crescente
desvenda o sereno
leve sorriso
III-
o sol poente
sem levantar poeira
tece a noite
IV- entre sussurros
outono escorrega
pelas vidraças
V- neblina ruge
coroando a bruma
na quase manhã
VI -
brilho de lua
pulsando, flor germina
na fina chuva
VIII-
Fibras II
Corpo tece
a esteira
a rede
a teia
No embalar das ondas,
das palmeiras,
da rede ...
Sonho e teço
uma existência melhor
Com e para os meus
guiado pelas estrelas
que guiaram meus pais
O ar me encobre
as penas me servem
das vergonhas estou livre
Às águas entrego
minha sede
desejos pacifico, sou forte, sou guerreiro
sou ainda herdeiro desta terra, céu, sol e mar !
IX-
Pode que aconteça
ao anoitecer abrir-se
uma brecha no tempo-espaço
dos homens
e ouvir-se ao longe o mar ...
e o tingir do leito das águas
pelos raios de sol
percebendo o som dos grãos de areia
e o desabrochar sutil
dos sonhos entre espumas ...
pode que aconteça
ao anoitecer
abrir-se uma brecha
no tempo dos deuses
e ver-se com outros olhos
o que da escuridão brota ...
escutando a juventude
estalar na boca da noite...
pode que aconteça
a alguns, debruçarem-se
como as ondas...
sobre o tapete cor de mel ...
pode que ao anoitecer
no desenho do tempo eterno
alguns ainda deixem-se acontecer
sobre os ciclos do céu da terra e do mar ...
X-
Quero ainda
brincar com estrelas
acreditar que tudo sarou
adormecer e com a lua acordar um duende
lamber os dedos ao término do sorvete
ver os meninos de rua
vestir um short e conhecer sua canção valente
esquecer de crescer por horas a fio
bater um tambor, tirar algum som da flauta esquecida
virar a casaca, escalar nuvens, subir escadas de neon...
deitar na relva, regar sem pressa meu jardim
colher sementes de esperança
nas asas dos colibris ...
despir-me das feituras
esquecer dos papéis que interpretei e
sem vinho, à santa loucura ( Poesia) entregar-me
E, preparar-me para dar-te
se desejares,
o frescor aromático das manhãs...
Agradecimento
A ti meu filho Joaquim querido com todo amor
deste mundo dedico este EBook - Apologias
de um Viajante, pois que por haver os olhos teus,
melhor vejo e por amar-te ouso minha coragem !
Para entender teus anseios e
necessidades melhor compreendo-me
e continuo a viagem...
Ebook ABVL 2009