Naufrágio em prosa e verso
Beira mar tinha poesia sobrevivente do naufrágio da inspiração.
Era um barco sem rumo, navegando versos sem bússola. O sol se escondia lá atrás das águas e deixava a noite engolir o mar. Nas alturas as estrelas se dependuravam em silêncio soltando gritos de brilho.
Palavras presas não se entendiam nas garrafas jogadas na água.
Mesmo assim contavam das distâncias às praias esquecidas;
E voltavam navegando sentimentos e notícias de um dia qualquer.
Dos mares aos cais, os luares passeantes no céu da boca, quando sonhava um beijo. Então os poemas dormiam no fundo do barco, acalantados pelo balanço das ondas.
A fome pedia peixe e lançava rede nos sonhos.
A botija vazia no canto esperava chuva ou o aceno de uma ilha.
Eram sujeito e verbo na mesma oração; E era mar, era Amar.
Até que o barco que partia sem direção, no escuro se partiu no rochedo da ilusão. Das tábuas soltas, o amanhecer vendo a praia, pedindo pedaços de poesias. E o navegante solitário estirado na areia, era recitado em prosa e verso, pelos coqueirais alinhados em saudações.