O poema em prosa desatou as amarras do cotidiano: libertou os cães das coleiras, coleirinhas das gaiolas, galinhas dos poleiros, polacas dos puteiros, outeiros das sesmarias, marias das estrelas, elas da esterilidade. Temendo apanhar do poeta, escondeu-se no pote de xampu e, dissolvendo-se qual liberdade, queratinizou a possibilidade de esvoaçar cabelos e pensamentos nos desejosos infinitos do mundo. O poema em prosa divorciou do poema em verso deixando um Riobaldo - nas veredas gerais - saudoso, ansioso, desesperado por Diadorim. Sem bússolas, sem nortes, sem polos, ponteiros, olheiros, pronome indefinido. O poema em verso continuou com suas pernas quebradas parado numa quina da estante, dentro de um pacote de bolachas, num cubo transparente. Riobaldo sente-se inútil perto de muitas páginas que não se rabisca sem Diadorim. Diadorim presenteia com demência seu passado monogâmico. O poema em prosa percorrerá a via láctea até roubar o sol da lua. O poema em prosa fará a lua perder seu brilho e a noite fundar seu reino perene. Tudo será cristal-de-gelo. Cansado de descriar, voltará ao meu peito e serei quente como viajante que nunca deixou o seu lugar.
Imagem: A Noite Estrelada, Van Gogh.
Imagem: A Noite Estrelada, Van Gogh.