Compasso
Sentado sobre a mancha cinzenta de madeira podre, em piso seco, do salão de uma mansão abandonada, percebeu-se estagnado, inerte, impassível. Resolveu caminhar, sem saber pra onde. Completou uma volta. Depois mais uma, e mais outra. Andava em círculos e gostava disso. E sempre que pisava sobre a mancha podre, daquele piso de madeira abandonada, do salão cinzento em mansão seca, contava mais uma volta. E gostava. E acumulava, na mente, nos passos, nos discos intervertebrais. E o piso, cinzento, de madeira seca, respondia podre às solas manchadas, que resistiam em abandonar o salão da mansão. Apegara-se. Mesmo diante da dor e da estafa; da pele seca, cinzenta e putrefata; das lágrimas raras, pesadas e salgadas, prendia-se, arrependido. Já não enxergava mais a mancha no piso podre. Já não havia mais paredes no salão, nem na mansão. Já não pisava, não tocava, não sentia. Não andava mais em círculos e, então, já não tinha mais o que contar.