ALMA RUDE
Francisco de Paula Melo Aguiar
O ser humano é subjetivo em tudo
Ele diz que ama a Deus sem conhecê-lo
Porém, não ama seu irmão de sangue
Filho do mesmo pai e da mesma mãe.
O irmão ele conhece pela voz
Pelo andar, pelo cheiro do suor
Pela roupa, pelo sapato, pelo olhar
Pela cor da pele e pelo abraço.
Diz amar a Deus, o desconhecido de tudo
E de todos, porque não sabe de onde ele vem
E nem sabe para onde ele vai e o que quer
Onde vive, o que come e o que bebe.
Mas odeia o irmão que ele sabe o nome dele
Onde vive, o que faz, o que bebe, o que fala
O que pensa, sua ideologia, sua religiosidade
O tipo de música preferida, se clássica ou popular.
Ama o desconhecido sem saber como ele veste
Suas cores preferidas, o tipo de cachaça ao paladar
A cor do paletó, de sua gravata e de sua camisa
O time de futebol e a escola de samba do coração.
Diz que ama a Deus e não sabe o dia que vai conhecê-lo
Não sabe onde fica o seu endereço físico e/ou on line
Se nas capelas, igrejas, mesquitas, catedrais e sinagogas
Templos espíritas, religiosidades de matrizes africanas.
O desconhecido é amado porque ele é uma pessoa distinta
Calada, maravilhosa, poderosa, mágica, milagrosa, onipresente
E onipotente, capaz de servir de vingador dos fracassados
No universo mental de quem diz amá-lo contra seus algozes.
O desconhecido é amado à luz dos textos sagrados das religiosidades
Escritos justos e perfeitos a toda prova para os legendários seguidores
Palavras inspiradas e saídas do coração com sentimentos claros
Aflorados em suas frases e/ou orações avassaladoras como o sol.
A humanidade ama o desconhecido, a exemplo de amar a Deus
Sem conhecer o pensamento literário, poético e salvador
Diante de seus temores, sonhos, medos, amores, recordações
Suas saudades, lembranças, desejos materiais e espirituais.
Faz de conta e sempre apronta, ama a Deus,o desconhecido
Por que é tão fácil conhecer e amar o desconhecido?
E como é tão fácil odiar, enfrentar e matar o conhecido?
Assim como é tudo que vem de sua alma rude do anarquismo cristão.