Escatologia
Esperava escrever um conto.
Mostrar um pouco de mim em prosa e verso.
Descobri-me passeando pelas linhas,
Sem conseguir escrever ao menos um terço.
Talvez a timidez tenha me apanhado;
Talvez a memória tenha se apagado;
Ou a solidão tenha me abraçado, tão forte,
Que meus dedos foram engessados.
Não pude exprimir o que me angustiava o peito;
Uma dor que às vezes nos leva até a morte.
Coisa assim desassossega, devemos ter respeito.
A angústia é cicatriz em movimento,
ou ferida aberta a própria sorte?
Qualquer hora dessas venho e conto,
do que foram feitos aqueles dias,
dos quais queria escrever apenas um conto.
Exporia, quem sabe, alguns monstros,
ou descreveria meus momentos de euforia.
De uma forma ou de outra, passamos pela agonia,
Sem saber para onde vamos.
Criamos deuses de fantasia,
Pelos quais brigamos e matamos.
Igual fazemos com agremiações,
e do mesmo jeito na política.
São nossas armas mais letais,
que nos sustentam como bengalas psíquicas, e
para as horas que não sabemos como lidar,
delegamos a eles a culpa, a sorte ou o azar.
Seremos para sempre meninos, até a foice chegar?
Quando nos igualaremos a todos os outros?
Quem sabe algum dia nos escavarão.
Gostaria, sinceramente, que escrevessem sobre nós,
ainda que numa lápide ou em um livro:
"Aqui jaz um espécime imbecil, representante da raça humana -
Ainda que numerosos, morreram todos sós”.
Caro leitor.
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