RECIPROCIDADE

Reciprocidade, se você procurar no dicionário, irá encontrar: “do latim reprocitas, significa mutualidade, na semântica é a correspondência existente entre duas palavras que têm sentidos opostos, mas apresentam uma relação de conformidade mútua, como por exemplo, comprar-vender”. Mas, como todas as palavras no mundo que usam outras palavras para definir o que é, esse amontoado não consegue definir a reciprocidade.

Posso não conseguir defini-la mas sei o que a falta dela causa: dor, já fui embora de pessoas que amava mais vezes do que posso contar, e mesmo com a distância, o sentimento não diminuía, mas a falta dela doeu e se duvidar, dói um pouco até hoje. No universo há uma troca, o tempo inteiro, e por vezes não a entendemos.

Para sentir a reciprocidade, é preciso antes de tudo tirar a capa da expectativa e enxergar as pessoas da forma que são e não como achamos que deveriam ser. Meu avô, por exemplo, já ganhou inúmeros presentes meus e alguns abraços de supetão, mesmo que não goste, nunca recebi presentes de volta mas sei que nosso amor é recíproco, sei disso porque ele sempre me encontra com o mesmo sorriso, sempre conta as mesmas piadas, sempre passa a mão no meu cabelo e o principal, me deixa entrar no seu quartinho de bagunça, coisa que pouca gente faz. Meu avô me mostra que me ama cedendo algo dele. E, talvez, para muitos ele esteja me dando uma migalha, e nunca chegue a me presentear, assim como eu fiz, mas para mim, que o conheço, sei que ele está me dando seu mundo quando me deixa entrar na sua rotina e no seu quartinho.

Uma vez perdi um pressuposto amor porque não o enxergava como ele era, queria que ele fizesse coisas grandiosas como nos filmes de romance, mas esse não era ele e por isso eu não enxerguei o amor que recebi, não notei que ele estava cedendo um pouco si para mim todos os dias em inúmeras ocasiões em pequenas atitudes, seja levando sorvete quando eu estava triste, sem importar o horário (isso inclui a madrugada) ou estando presente sempre que precisei. Ele me deu o que tinha, eu joguei fora e ainda o chamei de insuficiente.

Às vezes damos o mundo, esperando um mundo em troca, mas o problema disso é que esperamos um mundo específico já criado na nossa cabeça. Às vezes entregamos Saturno esperando outro Saturno e recebemos Plutão, e é claro, vamos achar que aquilo não é suficiente, porque queríamos anéis grandiosos, queríamos a simbologia de Thanos, mas ao invés disso, temos só Plutão.

Mas, seria mesmo Plutão, só Plutão? Se de fato não esperássemos nada, conseguiríamos ver a beleza desse planeta que não é mais planeta, porque esse é o problema, queremos uma reciprocidade que nós criamos e esquecemos que o outro, é o outro. Claro, existe uma linha tênue entre o outro doar quem é, o que talvez seja pouco para nós e a relação realmente não recíproca. A gente sabe, a gente sente na troca de olhares, na energia, quem está ali por nós.

Reciprocidade… eu espero que entenda, não é sobre pagar na mesma moeda o que te dão, mas tentar doar algo seu que signifique o que você recebeu, não existe a relação plantar/plantar, existe o plantar/colher, ações opostas, uma troca. Não perca pessoas porque você disse “eu te amo” e ela não respondeu na hora e como você esperava, observe o invisível, talvez ela já te disse tantas vezes que você nem percebeu.