FIRMAMENTOS DA DELICADEZA
A minha literatura ainda fundará um reino. No meu país, a negritude suada haverá de descer ladeiras livre, leve e solta cantando afroaxés e batucando rituais. As pretas-velhas serão grandes e admiradas como os buritis do sertão das Gerais. Sás Marinas, Nhás Moças e Dindas desfilarão seus corpos sem medos e pudores. Os atores beberão do sumo santíssimo da comédia. Pescadores entoarão fortes ladainhas pra vencerem o acalanto das correntes e marés e suas vozes roubarão o coração da lua. Meninas de roça ofertarão hóstias debaixo dos sinos das catedrais. Menestréis serão bem servidos em banquetes e saliências. Açucenas às margens do Velho Chico nunca sentirão sede perene. Vovozinhas encantadas nunca morrerão. Boi-boi-da-cara-preta será domesticado e, sendo falastrão pra lá de Sagarana, iniciará boas prosas. Redes vadias estiradas nas áreas serão a nossa única e verdadeira religião. Crianças subirão nas jabuticabeiras sem pretensão de prender passarinhos. Passarinhos não passarão. Seremos hóspedes da felicidade. Lá serei amigo do poeta. Minhas páginas serão firmamentos da delicadeza.