FIRMAMENTOS DA DELICADEZA

A minha literatura ainda fundará um reino. No meu país, a negritude suada haverá de descer ladeiras livre, leve e solta cantando afroaxés e batucando rituais. As pretas-velhas serão grandes e admiradas como os buritis do sertão das Gerais. Sás Marinas, Nhás Moças e Dindas desfilarão seus corpos sem medos e pudores. Os atores beberão do sumo santíssimo da comédia. Pescadores entoarão fortes ladainhas pra vencerem o acalanto das correntes e marés e suas vozes roubarão o coração da lua. Meninas de roça ofertarão hóstias debaixo dos sinos das catedrais. Menestréis serão bem servidos em banquetes e saliências. Açucenas às margens do Velho Chico nunca sentirão sede perene. Vovozinhas encantadas nunca morrerão. Boi-boi-da-cara-preta será domesticado e, sendo falastrão pra lá de Sagarana, iniciará boas prosas. Redes vadias estiradas nas áreas serão a nossa única e verdadeira religião. Crianças subirão nas jabuticabeiras sem pretensão de prender passarinhos. Passarinhos não passarão. Seremos hóspedes da felicidade. Lá serei amigo do poeta. Minhas páginas serão firmamentos da delicadeza.

Italo Samuel Wyatt
Enviado por Italo Samuel Wyatt em 01/10/2019
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