ABANDONEI TODAS AS DEFESAS

Abandonei todas as defesas, chamei todos os meus soldados de guerra e pedi que fossem descansar, conversei com os demônios da ansiedade e pedi que não fizessem festa por um tempo, tirei o amontoado de sofás e prateleiras que eu deixava impedindo a passagem do meu coração. Com pressa fiz uma faxina, joguei fora uma antiga blusa de legião urbana, pintei as paredes de branco, coloquei uns cactos espalhados, pendurei uma prancha de surf e um quadro do mar, fiz mesa de jantar e deixei que o amor entrasse. E ele entrou, observei que era alto e tive medo de ser como um cavalo de tróia que esconde a armadilha letal, não era. Ao invés disso, por dentro tinha uma imensidão maior que a nossa galáxia, e eu, que mal sei localizar o cruzeiro sul no céu, apenas deixei que o universo de olhos cor de folha de outono se expandisse, guardei solto, esperando então que o universo continue na minha casa, que coubesse lá dentro, porque me doía saber que talvez uma parte dele não me cabe. Abaixei a guarda e esperei que de todos os nós que fiz para arrumar alguns retalhos, ficasse o nós.