ONDE MAR TE

O capricho de minha pátria é poder dormir às portas da Igreja Metropolitana e rogar aos transeuntes um pouco de olhar - olhar que me negas, ditatorialmente. A soberania de meu Estado é sentir sua severa mão, oh meu amor, arranhar o dorso e constipar sorrateiramente minha sôfrega aorta, entregar-me à guilhotina. O território de minha pátria é o vosso peito-relicário: pocilga anômala, judaica, transversa e côncava, enseada de tudo e todos. Os povos de minha pátria são as salivas que caiam do vosso beijo insone e pedinte. Vontade de viver em minha pátria. Vontade de riscar na via láctea um planeta pra minha pátria. Vontade de erigir uma New Europe e cravar no mapa um achado de bússola. Ter vento caudaloso, enchentes mornas, juncos festivos, barraca de carícias, escambos mil.

Pátria de meus sonhos: esperança. Brasil em que sou estrangeiro: saudade.

Italo Samuel Wyatt
Enviado por Italo Samuel Wyatt em 27/09/2019
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