ESTADA

Convido-te a duvidar da perenidade do voo de uma borboleta, bisbilhotar os ducados das formigas, modelar sobre a lamparina quente as asas de um besouro centenário, violar a liberdade do sol com teu corpo unívoco e pronto a derreter, subir as escadarias de uma igrejinha interiorana para esmolar olhares fugidios, respirar o hálito inabitual dos desapressados, fulminar os carros que se estiram alarmados na clave de fá, obstruir os córregos que fogem às sesmarias do mar e fugir nas asas de um bem-te-vi. É plenamente possível (e desejável) desenharmos o divino numa fração de segundo. E depois que tudo acabar, sobre a face das águas habitaremos - espíritos saciados. Tua mão será minha bússola e minha fresta, estada.

Italo Samuel Wyatt
Enviado por Italo Samuel Wyatt em 27/09/2019
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