Silêncio e o resto
Comprei amaciante de lavanda francesa pra enxaguar o silêncio no tanque e estendê-lo no varal do meu dia. Pretendo passar a primavera como uma cigarra a entoar um canto vadio até estourar os pulmões e o silêncio secar. O inverno não tardará a chegar. Quando os catraieiros curvarem a enseada do Porto de Vitória e os limos da Pedra do Penedo embaraçarem-se no contorcer do tempo, vestirei o silêncio. O silêncio agradável com cheiro de lavanda francesa. Entrarei em casa e passarei longos três meses vestido de dignidade. Pouco me importará a geladeira e o armário vazios. Nada mais agradável que hibernar. Tenho ânsia pelo nada.