O HOMEM QUE CHORA
Primeiro uma lágrima saiu do olho esquerdo e percorreu sem pressa a sua face, descendo a linha do horizonte até os lábios. Enquanto sentiu o sabor da água do mar, a outra lágrima descia, desenhando o mesmo caminho. Lembrava-se daquela queda na calçada que feriu seus joelhos na rua da infância. Chorou e veio correndo para casa pedir socorro a mãe. Ele sentou-se na cadeirinha amarela, e ela clareou a terra e o sangue da ferida no joelho, com a bolinha de algodão umedecida na água borbulhante. Passou tantos anos e hoje sentiu o impacto de outra queda, desta vez, não é possível ver onde está a ferida. Parece ser a mesma queda do homem que alimenta os pombos na praça e quebra as duas pernas. E a mãe ainda estava lá com a mesma ternura do passado, só que agora cuidava do seu corpo inteiro.