Voyage
Quantas camadas ainda sobrepõem este corpo-abrigo antes que se revele a verdadeira nudez, eu já não sei.
Ignorei a sombra por muito tempo, em outros períodos nada via além dela. E agora não faz sentido olhar no espelho. Já cumprimos nossa missão mútua. São outros mecanismos para ver-me crua os quais necessito agora. E eu que sempre me soube de intensidade e profundeza preciso descer mais uns bons metros para encontrar e encarar o que não faço ideia estar escondido. Não me assusta a ideia de não conseguir voltar, mas sim a de não querer. E eu nem sei o porquê desse medo estranho, já que tudo ao redor se revela cada vez mais aterrorizante. Só sei que o sinto.
Nada fácil essa tarefa… Abrir mão da necessidade utópica de entender tudo. Não entendo.
Foi imprescindível deixar quase toda a bagagem acumulada para trás. Deve ser por isso a impaciência para lidar com as superficialidades cordialmente. Escolhi não doar nem um segundo ao que não acrescenta, muito menos ao que consome. Mentira, não tive escolha, apenas o fiz e tenho feito. É por mim. Porque ninguém além de mim o pode fazer.
Para essa viagem preciso de tudo o que estou e nada do que tenho. Sigo, itinerário desconhecido, passagem inadiável e como combustível apenas minha velha paixão pelos desafios.