Eu que não acredito em céu nem em inferno
Eu que não acredito em céu nem em inferno.
Eu, que me sei pequena diante da imensidão do universo, preciso lembrar que pra ter essa noção é que olho pra cima, mas mantenho os pés no chão pra não confundir ser apenas partícula do todo com a insignificância que está tão ao alcance, tão ao redor, só esperando eu me vestir dela. Em honra a quem veio antes e me permitiu hoje estar, é fundamental o tão árduo exercício diário de amor-próprio. Encontrar no silêncio formas de vetar o eco das vozes que tentam me ensurdecer — e eu não tô falando dos meus ouvidos, que são apenas um par dentre os múltiplos canais de captação das mensagens — concorre com as ditas obrigações das rotinas que nos esmagam a todos, quer saibamos, quer não. E entre a consciência de não ser mais e a prática pra não me crer menos, nessa tênue linha, corda-bamba, caio sim, levanto também. Nem sempre nessa ordem, nem sempre na mesma velocidade, ciente de que é preciso respeitar a cadência dos meus passos para equilibrar, na harmonia possível, os pesos e as belezas do “enquanto aqui dentro”.