Meu cenário
Percebo-me em desencontro: comigo, com os íntimos e os próximos, com o mundo. E, neste estado de efervescência da alma, transmutada em sentimentos difusos e afoitos, eu me vejo sozinha. Isso costuma acontecer com quem tem pressa ou com aqueles que esperam demais. Aguardam o "vir a ser", o qual pode nunca dar as caras. Forço-me a contentar com o viver. Mas, a força de uma dor alavanca as proibições internas e revela tudo do avesso na sua forma mais pura. As feridas intransponíveis vão se alastrando incansavelmente, como o gelo muda da fase sólida para a líquida ao ser exposto à temperatura ambiente. Em pequenos instantes, se desmancha em gotículas d'água. Em uma dada fração de existência, o amor acaba. Seja o próprio, seja por outros. Ou, nem se inicia, ou se interrompe no caminho. Sem mais delongas. Conhecidos se tornam estranhos, à medida que o tempo me absorve e distrai. Então, de que valem os laços quando acasos nos assaltam a confiança? Com certo toque de perspicácia, nos furtam a tal capacidade que nos é tão própria? Sobram restos de um passado infindo. Digo, em meio às coisas desacreditadas, tenho o hábito de imaginar a vida como ruas atravessadas. Em raras circunstâncias, atravessamos na faixa de pedestre quando o sinal está vermelho. Contudo, quantas vezes desafiamos os riscos e perpassamos pelos carros? Hesitamos em seguir o trajeto mais longo, cortando ruas desconhecidas? Respiramos de alívio ou suamos de nervoso? Vida. Para além do mencionado, está o meu através de obscurezas. Ponho-me em posição de desencantamento pelo real e tento me achar nas confusas invenções. Idealismos são a base de uma revolução em ato. Já fugir em desespero não me cai poeticamente, tampouco resplandece em beleza agora. Esse está sendo o meu cenário.