CORAÇÃO APERTADO E GARGANTA OPRIMIDA
(prestando contas ao espírito de Marilu Duarte)
Quanto mais o corpo transita pelo inexorável itinerário da finitude, mais agradeço a quem me lê e/ou me ouve, que palavras meramente dão conta dos tique-ataques ao músculo vital. Os atos é que realmente contam. Tudo tão simples, tão singelamente animal, sem os neurônios a modelar os pés no lamaçal da estradinha de terra que molda em direção ao pó de onde viemos. Só que agora o Mistério e os fetiches dele decorrentes trazem a parceria do encanto, do amar, da intelecção e a sudorese de se saber sangue misturado aos tributos e penduricalhos dolosos que se agregaram nesta já longa passagem. A vida só vale a pena quando, ao recebermos energias, energizarmos o ambiente, o entorno de ser e estar entre o pó dos caminhos e a estrela cadente sobre as pedras úmidas de sangue orvalhadas. Sou muito grato aos parceiros de sustos e esperanças. A estrela que nos levará de retorno ao pó da eternidade é a mesma. Depois, o que sobrar será o orvalho sobre a saudade. Enquanto pudermos louvar o viver, o calor dos raios dela nos acalentará por entre as flores, pedras e musgo. Este mesmo andarilhar que me faz escrever com o coração apertado e a garganta oprimida entre os signos verbais e o oxigênio do suspiro de agradecimento. Dói-me o calo de viver, quando olho à retaguarda.
– Do livro inédito A VERTENTE INSENSATA, 2017/19.
https://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/6738812